FÉ, GRAÇA E RESISTÊNCIA

Parafraseando o pastor Ed René Kivitz (na capa do seu livro - Outra Espiritualidade), faço das palavras dele, as minhas:

Outro em relação a qual? Que 'Cristianismo' estou abandonando para que em seu lugar apareça "outro"? É simples: estou abandonando o 'Cristianismo' do senso comum evangélico e saindo em busca Cristianismo do senso comum da tradição cristã.

Apresso-me em explicar. Considero 'senso comum' uma forma simples de me referir ao fato de que, apesar da enorme diversidade a respeito das características que identificam o ser evangélico, há um núcleo que resume como este segmento religioso da sociedade articula sua crença a seu modus vivendi.

Ao escolher o senso comum, admito que o 'outro Cristianismo' que busco não é uma novidade, mas um resgate dos aspectos essenciais à fé cristã conforme se estabeleceram nestes mais de dois mil anos de história. Outro Cristianismo, outra igreja, outro céu e outra fé!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A visão a serviço do Reino de Deus



Textos base: Mateus 9 vs 35-38 e Mateus 6 vs 22 e 23

Nos textos acima Jesus deixa bem claro a importância da visão que temos em relação às coisas ao nosso redor. Uma conversão genuína implica também a conversão não somente do nosso coração, mas principalmente dos nossos sentidos, uma coisa não acontece sem a outra. Toda visão que temos a respeito do Reino de Deus, implica necessariamente a visão que temos em relação às pessoas.

Toda visão implica necessariamente três pontos:

  • Meu ponto de vista (individual)
  • Ponto de vista dos outros (coletivo)
  • Ponto de vista do observado (o alvo da observação)

No processo de conversão Cristo deverá atuar em nós, para que não mais olhemos as coisas com os nossos olhos, mas obrigatoriamente a partir do ponto de vista de Deus. Há uma grande diferença nisso:

A imagem é, e pode ser manipulada: Nem tudo que é bonito para os homens será bonito para Deus, na maioria das vezes julgamos pela aparência e Deus julga pelo coração. Aquilo que os homens desprezam e julgam inválido, na maioria das vezes é o que Deus geralmente vê como precioso e valoroso. Exemplos:

- Quando o povo de Israel escolhe Saul (pela boa aparência) para ser rei x Quando Deus manda Samuel ungir o jovem Davi como rei (aparentemente inferior a Saul)

- Quando Gideão escolhe 30 mil homens (aparentemente bom número) para guerra x Deus no final fica somente com 300 (aparentemente uma desvantagem numérica)

Ponto de vista cristão: Toda conversão da visão implica um ponto diferenciado em relação aos 3 anteriores, pois, agora é necessário VER TUDO A PARTIR DO PONTO DE VISTA DE DEUS. Enquanto Deus não operar na nossa visão sensorial, nunca irá atuar através de visão espiritual.

A imagem que Deus tem do homem:

Gênesis: Deixa bem claro que todo homem carrega em si a imagem e semelhança da imagem de Deus, independente dos seus pecados.

Marcos 8 vs 22-25: Jesus cura um cego em 2 etapas. A pergunta que me faço é a seguinte: Ele não poderia ter sarado aquele cego com apenas um toque? Então por que não o fez assim? Jesus toca os olhos daquele cego e lhe pergunta (versículo 23) se via alguma coisa. A resposta que o cego dá está no versículo 24: "E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam". Então Jesus novamente toca seus olhos e então no versículo 25, " Depois disto, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos, e fez olhar para cima: e ele ficou restaurado, e viu cada homem claramente."

O que fica evidente nessa passagem é que enquanto vemos as pessoas como "árvores que andam" ou "objetos/coisas que andam" o milagre de Cristo ainda não está feito na nossa visão. Somente estamos sarados da visão quando vermos com diz no versículo 25 "CADA HOMEM CLARAMENTE".

Talvez conheçamos Cristo, mas talvez não enxergamos como ele enxergava. Ou olhamos pessoas como homens que carregam a imagem e semelhança de Deus, independente de suas falhas, ou então agiremos como os fariseus, cheios de justiça própria, conhecedores de Deus, mas juízes dos homens, caso isso ainda ocorra Jesus precisa dar o segundo toque em nossos olhos. Ou essa conversão nos torna fariseus ou simplesmente servos de Deus que aplicam o amor e a misericórdia de Deus.

Outros exemplos:

Atos 10 vs-9-23 (Pedro convencido ou convertido?): Pedro considerava impuro aquilo que Deus já havia purificado.

Mateus 9 vs 35-38: Jesus chama de "OS CAMPOS ESTÃO BRANCOS PARA CEIFA / OVELHAS SEM PASTORES" uma multidão de pecadores, e ao mesmo tempo POUCOS SÃO OS TRABALHADORES, talvez porque olhamos as multidões com as lentes de fariseus, cheio de justiça própria, ao invés de ter as lentes de Cristo, cheia de COMPAIXÃO e AMOR. Como vemos as multidões? Um bando de pecadores ou ovelhas sem pastores? Um bando de gente que vai para o inferno e maldita ou campos brancos para ceifa? A frase de Jesus ainda se repete. POUCOS SÃO OS TRABALHADORES. O ponto central dessa passagem é a forma como olhamos o próximo. Qual lente usamos?

Toda visão é obrigatoriamente incorporada: Mesmo enxergando as coisas com o ponto de vista de Cristo temos que obrigatoriamente incorporar sua atitudes. Ver não é suficiente, quando não se age, como ele agiu. Ou somos transformados em pequenos 'samaritanos' ou em clones de fariseus. Vide a parábola do bom samaritano. Ou vemos e fazemos o mesmo que o samaritano, ou então nos tornaremos os religiosos da parábola que passam de lado, indiferentes ao sofrimento do próximo.

Conclusão: O chamado ainda continua. Jesus só vai atuar em nossas vidas quando transmitirmos a esperança às pessoas como Ele transmitia. Quando as dores de Deus forem as nossas dores, quando a visão de Jesus estiver em cada um de nós, certemente a compaixão e o amor estarão em nosso coração. Ele terá espaço para trabalhar em nós, mas para isso é necessário mudar nossa visão em relação ao próximo. Transmitimos juízos ou misericórdia? Somos juízes ou servos do Reino do amor e compaixão? Somos representantes da religião farisaica ou do Cristo?

Para meditar:

"A beleza está nos olhos de quem vê" - Augusto Cury
"Todo ponto de vista é a vista de um ponto" - Leonardo Boff
"Receber uma visão de Deus é algo tão profundamente espiritual quanto profundamente prático" - Bill Hybels

Um comentário:

Luciano disse...

Há uma certa dificuldade em voltar as raizaes, pois há dissenções que faz que não falemos todos uma única coisa.
Falar / não falar línguas, tradicional/pentecostal, gospel/cristão, ...
Mas na verdade somos todos de Cristo, e é eese o verdadeiro motivo de sermos cristãos.

Graça e Paz!